Empreendedorismo Criativo Eventos

Entrevista com Letícia Coutrim, artista expositora do Divecon Festival de PcD e Raros

Letícia Coutrim, 28 anos, recebeu tardiamente o diagnóstico de autismo, aos 23 anos. Mas desde a infância, já reebia tratamento para outras comorbidades, como o déficit de atenção e a hiepratividade. Foi nas sessões de psicoterapia que encontrou na arte uma forma de se expressar. Segundo ela, “uma imagem vale mais do que mil palavras”.

Hoje, a arte se tornou, também sua profissão. Dia 19 de outubro, Letícia irá expor e comercializar parte de seus trabalhos no Divecon, Festival de Economia Criativa de PcD e Raros de Osasco.

Conheça mais sobre a artista:

Qual é seu propósito como artista?

Quero criar conexão e impacto com as pessoas através dos meus trabalhos, diversificando a forma como expresso meus desafios, dores, lutas e superações. Minha intenção não é apenas representar uma pessoa com deficiência, mas também uma artista sensível, com uma imaginação profunda sobre si mesma e sobre a vida em seus relacionamentos. Por meio disso, desejo mostrar minha capacidade de conscientizar as pessoas com empatia pelas artes e ser um exemplo para aqueles que não conseguem se expressar verbalmente. Como diz um famoso provérbio: “Uma imagem vale mais que mil palavras”.

Como tudo começou?

Desenho desde a infância. Aos 8 anos, durante minhas primeiras sessões de psicoterapia, encontrei no desenho um canal de expressão e comunicação, pois enfrentava dificuldades para me conectar com os outros e muitas vezes me sentia deslocada e excluída dos grupos. Com o tempo, fui me desenvolvendo em outras áreas desse campo. Quando morava em Sumaré, participei de projetos escolares, realizando trabalhos artísticos, e me apresentei no “Show de Talentos”, onde toquei e cantei violão no Ensino Médio, em Hortolândia. Minhas aulas preferidas nesse período eram Artes e História.


A decisão de escolher Artes Visuais como graduação foi clara, mas, devido a condições financeiras, optei pela licenciatura. Ao longo de estágios, projetos autorais, freelances, exposições, apresentações musicais e trabalhos voluntários, percebi que meu talento vai além de simplesmente produzir. Meu coração, alma e olhar se voltaram para as pessoas, e minha vocação se tornou estar diretamente com elas, ajudando, conscientizando, educando e mentorando outras a buscarem seu autoconhecimento e aceitação por meio da arte. Após descobrir meus diagnósticos, essa missão de ajudar e conscientizar se fortaleceu ainda mais, guiando meu trabalho na arte e no ensino.

O que cria/faz?

Trabalho com desenhos tradicionais e também mesclo outras linguagens, utilizando técnicas mistas com diversos materiais, como grafite, lápis de cor, canetas e marcadores, nanquim, aquarela, pastel seco, carvão e até café, sempre testando novas ideias. Crio desenhos autorais, retratos, ilustrações personalizadas, capas de livros e marcas de produtos/empresas: desenhos digitais no Adobe Photoshop; textos, frases, poesias e músicas compostas; fotografia e edição/manipulação de imagem; vários trabalhos personalizados no Canva.

O que já fez além disso?

Tive a oportunidade de ilustrar dois livros infantis e criar personagens para um ilustrador, com foco em desenhos digitais. Também trabalhei com design digital para redes sociais e na área de UX/UI Design em uma empresa de tecnologia e inovação, onde tive um breve contato com ferramentas de IA.

Durante a adolescência, participei de duas peças de teatro, apresentações de canto coral e toquei violino em uma orquestra. Hoje, ainda mantenho o hobby de me apresentar cantando e tocando violão.

Na área da educação, atuei com crianças, auxiliando uma professora de artes durante a faculdade. Realizei pintura de rosto em eventos, ministrei oficinas de artes e também dei aulas de violão.

Voluntariamente, fui diretora cultural, coordenando uma exposição em um evento voltado para pessoas autistas na ONG Balão Azul. Participei de outros trabalhos voluntários, como o cuidado de felinos resgatados.

Recentemente, uma parte importante da minha jornada tem sido o ensino e o desenvolvimento de pessoas por meio da arte e das minhas próprias vivências. Este ano, tive a oportunidade de palestrar, compartilhando minha trajetória e abordando o tema do autismo. Fui também convidada para um podcast, onde discuti a realidade das pessoas autistas no mercado de trabalho.

Minha maior missão é mais do que representar pessoas neurodivergentes; quero ser uma defensora da inclusão e diversidade, especialmente para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), buscando contribuir com projetos e campanhas de conscientização nos ambientes de trabalho, além de usar meus talentos artísticos para essa causa.

Onde já expôs e desde quando?

Além da galeria universitária (2015-2017), expus na Câmara Municipal de Valinhos, onde coordenei o evento “ManifestArt – A arte por trás do Quebra-Cabeça” (2019), e participei de um evento na Prefeitura Municipal de Campinas, no mês de conscientização sobre as pessoas com deficiência, em setembro de 2021. Hoje, busco com mais persistência novas oportunidades para expandir a visibilidade do meu trabalho.

Também realizei uma apresentação musical no Fórum da Prefeitura de Campinas, onde cantei e toquei violão, acompanhada por meu irmão no cajón, em 2014.

Como é seu processo criativo?

Costumo acreditar que as ideias mais criativas não surgem de forma isolada dentro de nós. Aprendi, ao ler “Roube como um Artista”, que tudo o que criamos é, na verdade, uma composição das coisas que vemos, ouvimos, sentimos e experimentamos ao longo da vida. Coletamos essas influências, as moldamos e, através de muitos testes e erros, alcançamos resultados que nos trazem verdadeira satisfação.

Como você se inspira?

Inspiro-me ao ouvir músicas que ressoam com minhas vivências, memórias e estados de humor, além de leituras e citações que dialogam com minha personalidade. Filmes que se entrelaçam com minha história, artistas renomados – desde grandes nomes da arte até aqueles que ainda não receberam o reconhecimento merecido – também alimentam minha criatividade. Participar de exposições, apresentações artísticas e conversas com outros artistas enriquece meu repertório, criando uma vasta biblioteca de referências que escolho para iniciar meu processo criativo.

No entanto, o verdadeiro segredo do meu processo criativo está na escrita. Manter um diário, registrar frases inspiradoras, relatar experiências marcantes e refletir sobre meus relacionamentos são as portas que me conduzem à criação. Além disso, sou apaixonada por brainstorms coletivos, que considero um verdadeiro “parque de diversões” para desenvolver ideias em equipe.


Mais a fundo ainda: Meu estilo e gostos que se mesclam em meus trabalhos, vem de musicas performances e composições de Amy Lee e a banda Evanescence, os integrantes do Rosa de Saron, a criatividade da musicalidade da banda Supercombo e outras bandas de rocks de estilos metal sinfônico, nu metal ou grunge. Também musicas religiosas me inspiram também sendo parte da minha vida católica.


Tenho uma profunda admiração pela história da arte, especialmente pela vida de Van Gogh e sua intensa paixão pelos girassóis, que refletem minhas próprias feições. Sinto-me inspirada por obras contemporâneas que desafiam convenções, como as de Vik Muniz e Marina Abramović, que apresentam traços fortes, rasgados e marcantes, combinados com linhas minimalistas.


Sou também apaixonada por cinema e pelo universo das produções, apreciando as análises críticas e todo o entretenimento cinematográfico.


Minhas criações frequentemente incorporam uma paleta vibrante, mesmo quando abordam temas sombrios ou extremamente alegres, resultando em composições exuberantes, repletas de elementos diversos. Vejo minha arte como um pedaço de scrapbook, onde colagens, escritos, desenhos e elementos se entrelaçam. Embora admire o minimalismo, ele não representa a essência do meu trabalho; ao contrário, minha assinatura é marcada pela complexidade e riqueza de detalhes.

O que vai trazer no Divecon?

Para o Divecon vou levar uma exposição da minha arte e levar versões dos meus desenhos para vender.

SERVIÇO 

DIVECON

Data: 19/10/24 (sábado)

Horário: das 11h às 20h

Local: Escola de Artes César Antônio Salvi 

Rua: Ten. Avelar Píres de Azevedo, 360 – Centro, Osasco/SP

Entrada gratuita e livre / Local com acessibilidade / Intérpretes de LIBRAS e monitores especializados em atendimento a PcDs e Raros.

O Festival é uma realização do Governo do Estado de São Paulo, através da Secretaria de Cultura, Economia e Indústria Criativas e do Governo Federal, Ministério da Cultura, através da Lei Paulo Gustavo.

Conta com apoio da Prefeitura Municipal de Osasco. E a produção está sob responsabilidade da Tudo Sobre Inclusão Consultoria, dirigida por Cristiane Mayworm, mãe atípica, consultora e produtora cultural; Renata Poskus Eventos e Comunicação e Vilma Queiroz Produções Culturais. 

Você também pode gostar...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *